Talvez alguns de vocês estejam acompanhando as notícias acerca das manifestações na Turquia. Eu, até então, não estava tão por dentro nem tinha entendido a real gravidade da situação até que recebi uma mensagem de um amiga turca que conheci durante o intercâmbio. Ela mandou a seguinte mensagem:
Então fui perguntar a ela o que mais podia me contar, porque a nossa imprensa divulga, mas é difícil saber o que é real ou não, afinal são olhos de outros e opiniões de outros: não estamos lá pra saber.
Eu não entendia nada de Turquia, não tinha a mínima ideia do que se passava por lá – na minha ignorante e turística cabeça só vinha imagens de burcas e misturas étnicas. Então fui pesquisar sobre o ocorrido, sobre a Turquia e o que justificava a mensagem.
Nos últimos dias tem ocorrido manifestações por toda a Turquia porque o governo decidiu derrubar um parque, que é uma das poucas áreas verdes que ainda têm, para transformá-lo num shopping. Segundo a blogueira Sumandef Hakkinda, em seu post What is happenning in Istambul?, eles têm muitos shoppings por lá, praticamente um para cada vizinhança ou bairro. A população não queria perder uma área verde para a construção de mais um bloco de concreto para compras, obviamente. Então decidiram se manifestar.
As manifestações começaram de forma muito pacífica: o que fizeram foi simplesmente parar em frente as máquinas, quando estas vieram para derrubar as árvores. E o que era uma manifestação popular pacífica acabou virando quase uma guerra civil – exceto que para uma guerra de fato, ambos os lados estariam armados e aqui há claramente uma desvantagem e uma opressão de um governo autoritário. Foi informado que cerca de 939 pessoas já foram presas e números médicos apontam mais de 100 feridos.
A Turquia é, supostamente, uma república constitucional democrática. Mas isso aparentemente só funciona no papel, pois agora veem que na prática é algo muito mais parecido com imperialismo autoritário e está além da construção de um shopping.
H.Y, como podem ver nos prints que tirei da conversa, se desculpou porque não conseguia mais “pensar em português” e lá não podiam falar diretamente o que pensavam de fato. Indicou-me uma notícia vinculada no site “Internacional El País” enquanto “lembrava como contar em português”. Vou citar aqui um pedaço da notícia para demonstrar como essa manifestação deixou de ser sobre árvores e passou a expressar a opressão sofrida por conta do governo de Edorgan:
Muchos manifestantes decían que estaban hartos del autoritarismo del Gobierno, que toma decisiones sin consultar a la gente y, entre otras cosas, ha eliminado restricciones contra el uso del velo islámico en la esfera pública y la educación religiosa en las escuelas. En las últimas semanas, el Gobierno ha limitado por ley la promoción y el consumo de alcohol. También ha inaugurado la construcción del tercer puente sobre el Bósforo, que hará desaparecer otra gran zona verde.
E mais essa citação da fala de um rapaz turco, dessa vez de uma notícia vinculada em site de notícias de Portugal:
“Isto já não é só por causa de árvores, é sobre a pressão exercida por este Governo. Estamos fartos, não gostamos da direcção que este país está a tomar”, disse à Reuters Mert Burge, um estudante de 18 anos. “Vamos ficar aqui durante a noite, mesmo que tenhamos de dormir no chão”, garantiu. A remodelação da Praça Taksim, projectada pelo Governo, implica, de acordo com a oposição, a destruição de um dos poucos espaços verdes da cidade.
O que aconteceu com os que resolveram manifestar e dormir no parque já sabemos, H.Y contou isso no print que mostrei acima. E mais uma vez citando a matéria do site português:
Estamos vendo, portanto, que a situação na Turquia extrapolou qualquer limite. Trata-se de uma ditadura, situação de opressão e imposição religiosa, de censura, de violência, de um Estado imperialista e autoritarista ignorando qualquer direito social, individual e qualquer lei que supostamente existe e rege a comunidade, inclusive políticos (que se julgam, entretanto, acima da lei).
Essa publicação começou com o pedido de ajuda de minha amiga, H.Y, e agora é também um pedido meu para aqueles que se importam. Como viram nas notícias, Edorgan já tinha feito presos políticos (estudantes, figuras da política, professores, estudiosos em geral, jornalistas) acusando os “réus” de suspeita de Golpe de Estado. Agora age contra a população. A quem serve este poder?
Assim como todos se mobilizaram em solidariedade ao movimento indigenista, ao movimento feminista, contra Belo Monte, ao código florestal e outras tantas causas, humanas ou não, peço que se esforcem e divulguem em nome daqueles que estão de mãos e bocas atadas enquanto apanham da polícia e perdem seus direitos para um imperialista chamado Edorgan.
Prints completos da conversa com H.Y:






